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26 agosto 2015

A foto e o conto


Prévia.

A Helô Righetto, do Básico e Necessário (e também do Aprendiz de Viajante), postou nesta semana uma foto linda no instagram dela (@helorighetto). A tal foto foi tirada no País de Gales, esse lugar que nem conheço e já considero pacas. Fiquei namorando a imagem por uns bons minutos e minha cabeça ferveu. Brinquei no comentário: "Nossa, dava pra escrever um conto sobre essa foto". E aí ela botou pilha e o resultado está aí embaixo. Provavelmente a última vez que escrevi algo assim, estava no 3º ano do colegial (que oi, nem existe mais!), então perdoem a pieguice. Promete que vcs me contam nos comentários se isso é legal e se devo continuar fazendo? Vai que...!

Foto do Martin, o maridão cozinheiro da Helô


Inerência

Ela chegou. E quando ela percebeu que havia chegado, ela parou. Ela parou e contemplou tudo aquilo que enchia os olhos de beleza. Havia também uma certa melancolia cinza, mas isto também era belo. Como bem se sabe, a beleza está nos olhos de quem a vê. E não são raras as vezes em que ela é subestimada, esquecida, abandonada. Aproveitando um momento de percepção mais apurada, ela notou que não havia apenas o que ser apreciado. Havia ali uma missão, uma escolha. Havia ali alguém apontando o dedo e dizendo: faça sua parte. Ela se viu impelida a ceder. Argumentar seria inútil, desgastante. E foi ali que ela se viu de frente a um impasse. Na imensidão de uma praia cuja visão era incapaz de alcançar, ela olhou pra fora. E foi olhando pra fora que ela conseguiu se ver por dentro. E nela também se refletiam as escolhas de uma vida cujas pegadas a seguiam. O certo, o errado, o bom e o mau. Todas as dicotomias inerentes ao que chamamos humanidade. Ponderando sobre o passado, o sentimento de que nada ali podia ser alterado. No entanto, a sorte de de se ver naquele portal, pronta para uma nova caminhada, pronta para um novo caminhar. Ela olhava pra praia e a praia lhe mostrava: um farol e uma ilha. Quantas dicotomias existiam ali? Um farol, uma construção humana. Uma ilha, um evento natural. E quanto às semelhanças? Ambos presos a uma ponta de esperança e conforto aos marinheiros. Um lugar onde jogar a âncora. Um porto seguro. Uma garantia. Mas de que adiantam tantas garantias e seguranças e confortos quando o coração anseia por mares bravios e turbulentos? Quando a alma pede por mais, quando a vida não se quer estar e pede por ir. E foi nesse momento que ela percebeu que as opções muitas vezes estão veladas, presas debaixo de um véu de obviedades. Nenhuma das escolhas que se mostravam transbordava sua alma. E transbordar era tudo o que ela queria naquele momento. Transbordar. Transbordar. Transbordar. E há algo mais transbordado que o mar? Ali ela se despiu. Não havia mais ilha, nem farol nem praia. O que havia agora era apenas o transbordar do mar. E ela. E ela na imensidão do mar.
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