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28 março 2017

Causos do metrô londrino


O transporte público de Londres é uma coisa que eu nem sei explicar. Não é só transporte. É cultura. É um resumo da sociedade. É arte. E é onde rolam as coisas mais inexplicáveis, especialmente durante a noite. Dia desses lembrei de alguns episódios. Veja aí e me conta se já viu algo parecido?

Teve uma vez em que uma garota trêbada entrou no metrô e encostou a cabeça num estranho pra dormir. O cara deu uma olhada de rabo de olho, mas não se mexeu. Até chegar à estação dele, é claro. Daí ele pediu licença pra sair, a moça xingou porque ela perdeu o travesseiro e ele disse um verdadeiro "Sorry".


Teve também o causo da garota louca no ônibus noturno. Começa com ela não achando o Oyster Card #classic, pra em seguida xingar o motorista porque afinal de contas "como assim você não pode me deixar passar?". Não satisfeita, ela resolveu tomar as dores do Brexit e começou a xingar geral a galera do busão. Eu me encolhi no cantinho, fingindo que não tava entendendo nada #nohabloingles enquanto os caras do fundão riam sem parar. Claro que ela ficou puta e foi lá dar uns tapas nos caras quando o busão fez uma curva e a mana caiu de cara no chão. Eu respirei fundo e os caras riram ainda mais. Ela se levantou tentando dar uns socos no ar e os caras a seguraram e a colocaram pra fora do ônibus no MAIOR AMOR DO MUNDO. Sério. Eles não a machucaram e a impediram de se machucar ainda mais.


Essa não foi comigo, mas com o meu namorado. No dia em que a gente se conheceu, ele tentou dar um caô pra dormir na minha casa, mas eu o mandei embora às 3 e tal da manhã. Ele entrou no ônibus noturno e obviamente caiu no sono dos anjos bêbados. Acordou com o motorista avisando que tinham chegado no ponto final. Ele, completamente perdido, pediu desculpas e disse que não fazia ideia de como voltar, se o motorista poderia dar alguma dica pra ele. O que o motorista fez? Dirigiu de volta até o lugar onde ele precisava descer.


Essa rolou recentemente na estação de St. Paul's. Um dos caras que controla a plataforma pediu pra todo mundo sair do trem por causa de uma falha mecânica. Acontece que ele ficou preso do lado de dentro. Quer dizer, mais ou menos. O corpo ficou pra dentro, mas a cabeça ficou pra fora. Anram. Isso mesmo. Daí todo mundo da plataforma caiu na risada e ele, num tom irônico à la British humour, mandou "Can everyone stop taking pictures, please?"

Numa bela madrugada voltando pra casa, me joguei no último trem da noite na Central Line e um cara no mesmo vagão começou a vomitar dentro de uma sacolinha de supermercado. Daí a galera meio que ficou tirando onda dele estar passando mal e ele, num ar super sério e sóbrio, disse: "pô, melhor vomitar no saquinho do que no pé de vocês, né não?" É, sim, migo. Valeu!

15 março 2017

Eu li: A garota no trem

A garota no trem, de Paula Hawkins (foto sem créditos disponíveis)

O romance de Paula Hawkins é triste. Um suspense com personagens psicologicamente bem marcadas, com histórias que poderiam ser reais e que me deixaram bem deprê. Primeiro, eu achei que fosse pela história em si, que inclui o desaparecimento de uma mulher, mas depois eu saquei que era pelo background. É pela história que não é explícita.

O livro retrata três mulheres que vivem nos arredores de Londres e cujas vidas se cruzam por razões diferentes. Rachel é uma alcóolatra digna de pena, raiva, decepção, nojo. Anna é a dona de casa mimada, cuja filha "estraga" sua vida. Megan é a loira escultural que desaparece numa noite de sábado. Todos esses estereótipos, no entanto, esfregam na sua cara como a sociedade pode ser cruel com as mulheres. E isso não fica explícito no livro, afinal, esse não é o ponto principal da história. Mas está ali, pra quem lê nas entrelinhas.

O suspense é bem amarrado, fazendo você se questionar sobre absolutamente todas as personagens e como elas poderiam ser responsáveis pelo desaparecimento de Megan, afinal, todo mundo tem "uma razão" para querer que ela suma do mapa. Pra mim foi difícil digerir a história principal porque o alcoolismo de Rachel me parece um assunto que precisa ser discutido mais do que qualquer outra coisa. Por que essa mulher bebe tanto? Por que ela não consegue se recuperar? Por que ela é tão desacreditada? Misoginia é a resposta para todas as questões. A fase final do livro é reveladora quanto à forma como a misoginia pode arruinar a vida de uma mulher. E não estou falando apenas de Rachel.

É difícil acreditar que Emily Blunt é uma mulher feia, hein, minha gente?

Como todo best-seller que se preze, o livro virou filme, com o título A garota no trem, lançado em 2016. Minha primeira decepção foi ver que eles fizeram a adaptação em Nova Iorque e não em Londres. Fuéééénnnn. Achei a Rachel do filme bonita demais pra ser a Rachel que imaginei no livro (entra aqui um parênteses porque o livro é narrado pelas personagens principais a partir de seu ponto de vista, então a descrição é incrivelmente subjetiva). Achei também que não retrataram a Anna direito, ela é um personagem muito abandonado no filme e no livro ela tem um papel fundamental na virada da história. Megan também foi reduzida a uma única característica psicológica, sendo que ela é muito mais densa. Ou seja, como toda adaptação, cortes muito bruscos foram feitos.

Acho que dá pra sobreviver lindamente nesta vida tendo lido o livro e não assistindo ao filme. Mas se você estiver muito curioso, vai aí o trailer pra você me dizer o que achou.

14 março 2017

Eu li: Quarto


Contei pra vocês que meu digníssimo me deu um Kindle de presente de natal? Pois é. Quando fui assaltada, levaram meu pimpolho e desde então venho fazendo um certo drama pra ganhar um novo. Só digo que: deu certo. Mas daí virei uma leitora voraz e compulsiva e me perdi aqui na lista dos livros lidos. #malzaê

Depois de abandonar o Just Kids da Patti Smith por razões de: chato pra caralh*, pedi dicas pra Nah, do Pra ver no mundo, que me passou uma certeira: Quarto.

Olha, vou falar pra vocês: foi difícil abandonar a leitura. Sabe aquela hora que você fica no desespero de sono, mas tá muito emocionalmente investido na história? Isso. O tempo todo. Não, péra. Isso até atingir o clímax do livro, que não contarei qual é. :)

Pra mim, a grande sacada da narrativa é ter uma criança de 5 anos contando o que está acontecendo, porque daí você precisa se emaranhar na descrição lúdica pra entender o livro. Achei fantástico. Sério mesmo. Queria muito explorar fatos específicos, mas é praticamente impossível falar deles sem dar spoilers, então espero deixá-los com curiosidade suficiente para embarcar nessa história.

Capa do livro de Emma Donoghue (a foto é do site Save the Cat)

Uma crítica é que o clímax do livro chega muito rápido e depois a história não se segura. Ela sobe de uma vez e depois vai amornando, amornando, até esfriar por completo. Há algumas tentativas de segurar a atenção do meio pro fim, mas nem se comparam com a tensão que você fica no começo. Mesmo assim, acho que vale a pena dar aquela explorada.

Como era de se esperar de um livro tão descritivo, o danado inspirou um filme, O quarto de Jack.O filme é bem fiel ao que importa na história, mas muito resumido. A história fica quase boba sem os detalhes que dão cor (e tensão) à narrativa. No livro fica mais claro porque as personagens têm determinadas atitudes, mesmo que contadas por uma criança de 5 anos. Alguns fatos sem explicação (nem spoiler!): o liga e desliga de luzes, a gritaria, o desespero pra sair daquele lugar. Isso tudo não tem muita explicação no filme. Está lá, mas parece sem sentido. Quando contei essas coisas pro boy ele fez "ahhhhh, podia ter sido melhor explicado mesmo". Ainda assim, acho que é uma boa maneira de visualizar o livro, achei bem parecido ao que eu tinha no meu imaginário. A pergunta que Jack faz no final é exatamente como eu me senti: "O quarto encolheu?". O trailer vai aqui embaixo, mas pode estragar algumas surpresas. Estejam avisados.



Pois é. Foda.

E você? Já leu o livro ou viu o filme? O que achou?
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