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06 março 2012

Estado laico onde?quando?de quem?para quem?


No dia 27 de fevereiro de 2012, o famoso padre/dançarino/coreógrafo Marcelo Rossi - aquele mesmo, do "Erguei as mãos e dai glória a Deus", quem nunca?? - deu uma declaração ao jornal Folha de S. Paulo, dizendo que poderá se unir ao coro da bancada evangélica no Congresso para protestar contra a nova ministra da Secretaria de Políticas para Mulheres, Eleonora Menicucci.

E daí que a Igreja Católica cogita unir-se à Igreja Evangélica, sua arqui-inimiga, tudo para quê? Para evitar que se coloque em pauta a descriminalização do aborto. Não é pra discutir, não é pra votar, não. É pra evitar que se fale sobre o assunto. Simples assim. Um estigma. Um tabu. Oi, a Idade Média voltou e ninguém me avisou?

Fato é que a própria ministra já afirmou por aí ser a favor do aborto e mais: disse com todas as letras já ter feito ao menos dois procedimentos abortivos. Vão lá, comecem a julgar. Já reclamaram? Já falaram mal, do quanto ela é assassina e tudo o mais? Ok, então agora continuem lendo.

Como todos sabem, nosso país é um Estado laico. Isso porque na Constituição Federal há um artigo que garante a liberdade de culto religioso. Isso significa que você pode exercer a religião que quiser. Inclusive exercer religião alguma, ser ateu. No entanto, isso não significa que o Brasil seja regido por leis "de Deus". A religião NÃO DEVE guiar as leis de nosso país.

Porém, contudo, todavia, o buraco é mais em baixo. Que os protestantes não me entendam mal, mas fato é que seus maiores representantes estão tentando garantir forças em todas as vertentes de comunicação e poder: em rádios, em TVs e na política. Que mal tem nisso, já que eles representam uma boa parcela de nossa população atual? Nenhum. DESDE QUE eles não tornem um Brasil um país xiita, intolerante e o pior: ignorante. (Vou pular a parte acadêmica, que diz, a grosso modo, que as massas, para serem manipuladas, precisam se manter irracionais. Se a massa começa a pensar e questionar, os líderes terão dificuldades em manter-se onde atualmente estão)



Em determinado momento da tal declaração do padre à Folha, ele diz o seguinte: "Existem princípios que regem a igreja e, se forem violados, há mobilização. Se um candidato for a favor do aborto, não só eu, mas também setores evangélicos, vão se mobilizar contra.". Vamos colocar grande, pra podermos enxergar: "Existem princípios que REGEM A IGREJA". Fim. Vai lá cagar regras pra sua igreja, você não manda no mundo, meu senhor. (Desculpe os modos, padre, gosto muito do senhor)

Voltemos à ministra. Segundo dados da Saúde, o aborto clandestino é a 4ª maior razão de morte materna no Brasil. Temos, então, um problema de Saúde Pública. Pode-se evitar? Sim. Pode-se entregar para a adoção? Sim. Pulemos isso também. Abortar é cometer um assassinato? Não sei. A meu ver, uma criança não nasce sem a vontade da mãe e só tem vida propriamente dita depois que nasce. Até lá, ela é apenas um feto dentro da barriga de alguém. É amado, sente coisas e tudo o mais? Sim. Mas não está viiiivo, vivo... Mas esta é, como posso dizer, a MINHA opinião.



O que a ministra me parece defender é a vontade da mulher sob o seu próprio corpo. Ela pode querer transar e pode querer engravidar. E pode querer não ter um filho. CASO a pessoa seja religiosa, ela mesma excluirá a hipótese de fazer um aborto. Não precisa ter uma lei que te obrigue a fazer o que Deus quer. Aqui não é o Afeganistão. No Brasil, você ESCOLHE no que quer crer. E se eu tivesse um tumor e escolhesse não tirá-lo do meu corpo? "Ah, mas aí vc vai morrer". Beleza, meu corpo, minha morte, minha escolha. O que diz respeito ao meu corpo é meu e as decisões sobre ele dizem respeito a MIM.

Eu não sou a favor do aborto. E provavelmente descartaria fazer um justamente por acreditar em um mundo espiritual, com sérias consequências sobre isso.

Mas não é possível deixar que milhares/milhões de mulheres morram em mesas de cozinha (abortos clandestinos são a 4ª maior causa de morte materna), operadas por curandeiros e charlatões, ao se submeterem a um procedimento clandestino, ilegal. Isso é que não é humano. Se Jesus encontrasse essa mulher morrendo, ele a ajudaria ou deixaria que ela morresse? ReflitÃO.

4 comentários:

  1. Por que não publica reflexões sobre temas importantes - como esse - em artigos no jornal, minha lindinha? Tá que lá acho q vc não ia falar pro padre ir "cagar regras pra igreja dele" (rsrsrs). Mas acho que vale a pena demais fazer as pessoas pensarem sobre esses temas... Bjim!!

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    1. Uai, Deiroca. Tenho uma maneira muuuuito particular de escrever, como vc mesma percebeu, e temo sofrer cortes malignos mesmo sendo um texto opinativo. Mas de repente, posso pensar em algo mais light pra apresentar pra Karla. Bjokas!

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  2. O debate sobre quando a vida começa é bastante complexo e, quase sempre, cai no campo do subjetivo. Contudo, a escolha pelo aborto é demonizada como um desejo de mulheres depravadas que querem dar sem fim, não utilizar nenhum método contraceptivo e ter uma espécie de "prazer oculto" em tirar um feto pela vagina.

    Na verdade, uma parte significativa dos abortos acontecem em situações de miséria, abandono e violência. Um aborto "seguro" custa cerca de 4 mil contos e só contempla uma parcela de pessoas relativamente remediada$$$$.

    O mais ridículo nesse debate são as guerras numéricas fascistas, onde querem dizer que o número de mulheres que morrem por isso não é tão grande assim (como se o problema só fosse válido quando virasse carnificina) ou que o número de abortos fosse aumentar (como se a lei tivesse o mágico poder de moldar o caráter do indivíduo ou como se tivéssemos dados seguros sobre o número de abortos CLANDESTINOS).

    Para piorar são as fotinhas de natimortos como se quem abortasse tivesse que ver o feto morto para entender o que está fazendo ou que isso não fosse em vários casos o fruto de uma decisão dolorosa.

    Mas enfim, a intervenção religiosa é problemática demais. Não podemos esquecer que a crença vem carregada de valores morais que refletem sobre o valor e o significado da vida. Portanto, enquanto a bancada religiosa debata a questão do ponto de vista moral e não cite a desaprovação divina, sua atuação é legítima.

    Para terminar: que preguiça do uso do termo ABORTISTA para quem se põe favorável à descriminalização! Por acaso, caso liberado o aborto, você vai querer fazer um CURSO DE CURETAGEM? Só um BOSTA como o Reinaldo Azevedo pra ventilar uma imbecilidade dessas.

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    1. Também tenho muita preguiça, Rainer, de quando dizem que quem é a favor da descriminalização do aborto também é abortista ou a favor do aborto. Pra mim é tão simples como uma coisa não implica em outra, mas a maioria prefere simplesmente apontar o dedo, acusar e condenar ao mármore do inferno. Todo mundo que brincar de ser Deus.

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