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09 setembro 2009

O que vale é barganhar

Em feira de artesanato de Jataí o bacana é trazer objetos já sem utilidade e tentar trocar por outros que lhe tenham valor


Feiras de artesanato sempre atraem pessoas das mais díspares idades. Com a Feira do Olho d’Água, em Jataí, no Sudoeste Goiano, não foi diferente. Mesmo tendo início neste último domingo, o evento, que promete acontecer a cada 15 dias, foi programa para crianças e até idosos. Quem lá esteve pôde se encantar com o artesanato local, comida típica, boa música e a oportunidade de trocar objetos já sem uso para o dono.


A troca é o diferencial desta feira, que pretende reunir artesãos da cidade e também pessoas comuns, com objetos a oferecer. Bastava estender uma toalha e espalhar produtos que poderiam ser objeto de troca ou até mesmo venda. A pechincha é garantida, mas a modalidade ainda apareceu tímida neste primeiro dia. Somente quatro pessoas trouxeram de suas casas alguns pertences que poderiam trocar: bijouterias, acessórios, roupas e até livros e discos de vinil que, quando chegaram, trouxeram grande alvoroço de curiosos.


Nas bancas de artesanato o talento era facilmente apercebido. Todos os trabalhos contavam com grande perfeição e detalhes, além de um acabamento impecável. Foi possível encontrar de tudo: oratórios, esculturas, móveis, tapetes, trabalhos com crochê e tricô, porta-trecos e muitos enfeites. Estes últimos foram, com toda a certeza, o ponto alto da feira.


A barraca mais visitada foi a de Maria Conceição (responsável pelos trabalhos das duas fotos acima), que vive de artesanato e já participa da Feira do Artesão – também tradicional na cidade – há oito anos. Ela explica que para produzir seus enfeites busca muita coisa no mato. Dá mesmo para perceber: são cabaças, fibra de bananeiras, madeira, jatobás, diferentes sementes e até mesmo mel, que enfeita a miniatura de um carro de boi. Ao ser perguntada sobre o enfeite preferido, ela desconversa: “Não dá pra escolher um trabalho que eu goste mais, para mim cada um deles é um filho”.


Outra artesã que trabalha com material vindo direto da natureza é Edileuza Gonçalves (que fez o trabalho ao lado), que foca seu trabalho em enfeites que estamos acostumados a ver na época do Natal. Até mesmo a caixa aonde vão as bolas feitas com frutinhas da gueroba vira presente: é capricho do início ao fim. É ela mesma quem produz a folha de papel feita com a fibra da bananeira, que vira anjo e até cartão de visitas. “Esse papel leva um dia inteiro para ficar pronto e meus filhos e sobrinhos já aprenderam a manusear, me ajudando na produção”, comenta.


Pátina em madeira e objetos para enfeitar a casa são a especialidade de Selma Amador, que começou a fazer artesanato há mais ou menos três anos e coloca a família toda para ajudar. Seu trabalho é minucioso e agrada aos olhos de quem vê. Selma foi uma das que trouxe, além do material para vender, objetos para trocar. “Esse é o diferencial desta feira, mas acho que ainda é preciso enfatizar esta parte. Poder trocar coisas que já não uso há tanto tempo é muito interessante, adorei a idéia.”, conta.


Andando mais um pouco é possível ver uma banca com esculturas de madeira e ferro. Pelo menos é o que parece até que tento pegar uma delas. A leveza do material me faz desconfiar. “É gesso”, explica a artesã Cida Rezende, que capricha na pintura e engana a todos que passam por ali. Ela fez um curso de esculturas em gesso há cinco anos e, desde então, nunca mais parou de trabalhar com as mãos. “É algo que faço como hobby, mas que já me traz algum retorno financeiro”, diz. Cida comenta que fica feliz ao ver um espaço especial para artesãos dentro da cidade e promete trazer mais esculturas daqui 15 dias. “Desta vez eu trouxe poucos objetos, para sentir o movimento da feira, mas na próxima já trarei bem mais”, entusiasma.


Música para todos os gostos


Além das bancas, outra atividade chamou bastante atenção de quem se dispôs a sair de casa na manhã do último domingo. A boa música vinda de um palco, entre artesãos e uma natureza exuberante que circunda o chamado Calçadão do Olho d’Água, ao lado da biblioteca municipal. Pelo menos quatro músicos nos brindaram com belas canções, dedilhadas ao violão e até mesmo em uma harpa. Os instrumentos lembraram aos ouvidos desde antigas músicas de raiz até música clássica.


Curiosa, me aproximo da harpa, um aparelho de som tão encantador e tão difícil de se encontrar por aí. O harpista é Papi Bordon, um paraguaio que há muito adotou o Brasil como morada. No sotaque, quase não se percebe o espanhol, que já não é falado desde 1970, quando se mudou para São Paulo. Em Jataí já são quase dez anos e Papi conta que é muito feliz vivendo aqui, mas ainda ama o Paraguai. “É um coração partido ao meio. A vantagem é que fico feliz com qualquer resultado de uma partida de futebol entre o Brasil e o Paraguai”, diz, com um sorriso largo – sua marca registrada.


Papi é, além de professor de idiomas, professor de harpa na Escola Municipal de Música, onde faz um trabalho que encanta a muitos na cidade. “A música é algo muito especial, que sempre toca as pessoas. Mas ainda assim vejo poucas oportunidades de apresentar o trabalho que fazemos. Esta nova feira é uma maneira de aproximarmos a música dos cidadãos”, argumenta.


Sucesso


Para saber a opinião dos visitantes da Feira do Olho d’Água, bastava perceber seus olhares e encantamento diante do trabalho dos artesãos e logo mais, as mãos cheias de pacotinhos levando presentes para amigos ou para si mesmo. Maria Luíza, funcionária pública, gosta muito do trabalho feito com material vindo da natureza local e sempre que pode prestigia os artesãos, comprando seus trabalhos. Rosa Helena, que é professora, também ficou encantada com o que encontrou na feira e sua mãe se apaixonou por alguns enfeites feitos com vidros. “Nós adoramos a feira, com certeza voltaremos daqui a 15 dias para ver o que mais o pessoal vai trazer”, diz.


A Feira do Olho d’Água acontece de 15 em 15 dias, sempre aos domingos, das 9h ao meio dia, no Calçadão do Olho d’Água, ao lado do Centro Cultural, no centro de Jataí. O próximo encontro é no dia 20 de setembro, não perca!

4 comentários:

  1. Sim, esta matéria foi recusada pelo jornal por falta de espaço...

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  2. Perderam um bom material :)

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  3. normal, tente não lamentar! Era assim comigo também!

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  4. E aposto que saiu um monte de matérias frias do tipo ocupa-espaço.
    Mto boa a matéria.
    :)
    Saudades

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